regina - nome de chocolate e de mulher

19 junho, 2005

Falsa coincidência

Alice dava-lhe pesada voz, rígida como palavra de ordem; e, ao telefone, o silêncio foi suspenso com duas palavras: - "Vou desligar!"
Regina tinha penetrado num universo de vida, perpetuado em tecidos talhados, bordados e rendilhados para o corpo e o mundo de Alice... E, em cada peça, confirmava-se a sua existência - blusinhas leves de ver o sol forte da serra; vestidos para dançar, num tango ritmado; almofadas de encostar o corpo, ao entardecer; toalhas bordadas de flores de chá; cortinas para fechar à hora da intimidade...
E colocava, com cuidado de joalheiro, aqueles diamantes em receptivas telas, conjugando poesia, cor e emoções. De vez em quando chorava - é que não havia a possibilidade de ver, de soslaio, toda aquela vida que agora se esvaía em Alice!
- "Vou desligar!"
Interiorizava aquela frase seca, como exercício de persistência de aceitação dos outros e do direito que têm à indignação, face à extinção do corpo...
Mas era um paradoxo vestir as telas, de vida, para a Alice, que a despia!
E Regina percebeu que o que nos rodeia não é nunca o filme rodado pela nossa vontade; pensou, então, num que vira há muitos anos: Alice já não mora aqui!
Sorriu longamente para a coincidência... Isto porque era mentira! Era mentira! Só podia mesmo ser mentira...

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