Prazeres
Lembrava-se bem da luz, do som, do cheiro do bairro, quando corria sem preocupações de metas. Por ali andava, alheia aos trabalhos de casa, que eram sempre adiados, num prazer de constante fuga para a frente...
À hora das refeições, perante o zelo de uma Ermelinda que se desfazia em magias de sopinhas passadas, fugia para qualquer uma das casas da vizinhança, onde se acotovelavam famílias extensas e, devido à sua contagiante sedução, alguém acrescentava mais um prato à redonda mesa, engrossada de fome e couves galegas.
Regina saboreava a sopa e o cenário, sempre atenta a tudo o que coloria o mundo.
De regresso a casa, já o seu prazenteiro estômago tinha sido consolado com a força de todo um quintal em fundo prato.
Continuou, vida fora, porque nascida e criada em Trás-os-Montes, a apreciar o que a terra generosamente oferece aos homens, habitando paredes-meias com a gula, que só era pecado por lhe criar ansiedades estéticas com um peso de meia dúzia de quilos!
Sabe que nunca lhe será fácil resistir aos prazeres da carne, do peixe, do marisco, da fruta ou dos doces, mas também acrescenta, frequentemente, este pensamento: - Para o jejum, tenho a inevitável eternidade...
E com um sorriso guloso, atira-se velozmente a uma majestosa ameixa Rainha Cláudia...
2 Comentários:
Às 22 de setembro de 2007 às 18:20:00 WEST ,
Anónimo disse...
Obrigada pelas recordações de infância que o texto evocou em mim... Assim possamos nós conviver (ainda que, por vezes, às escondidas) com a nossa criança ... a que fomos um dia e a que criou raízes no solo do nosso ser mais profundo ... Um abraço
Às 11 de julho de 2008 às 17:55:00 WEST ,
Anónimo disse...
Quero fazer parte do exército dos que adiam o seu jejum para a eternidade! E por causa, também vou adiar o descanso e as preocupações insensatas para esse estádio de vida...
Saúdo as silabas força que encadeias e te ressaltam da meninice madura!
É bom ler-te! Vou reler-te!
Carlos (sem máscara)
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