Tapetes Rolantes
Vivia com um cérebro instalado por dentro de todo um corpo de pele macia, dourada pela luz de Agosto...
Reorganizava a sua casa, com pequenos acertos de conforto singelo, tão ao seu gosto, percorrendo lojas de utilidades domésticas, sedutoras de saldos.
O que se usava ou não usava, era realidade que não a incomodava, portas adentro, vestindo o seu lar com condimentos de canela e intimismo.
Dezenas de quadros, seus e dos amigos, construíam as paredes coloridas de paisagens, colagens abstractas ou mesmo imagens de denúncia social, tão ao seu jeito visceral.
Num fim de tarde ventoso e desconfortável, imergiu em compras de cestos e almofadas, com olhos de avaliação de espaços e de equilíbrio e, sem quaisquer cuidados, que não estes, deslizou, tapete rolante abaixo, para retomar a estrada de regresso ao sossego de cama com livros...
Mas o seu olhar de curiosidade aproximou um outro que ascendia, tepete rolante acima, a um provável serão de café, montras e lazer.
Os olhares rolantes fixaram-se um no outro e o reconhecimento dos seus seres desenharam-se em sorrisos de uma alegria viva e não disfarçada.
Os olhos do seu interlocutor de sorrisos não tinham empalidecido! Mantinham a cor e o brilho que recordava de um encontro passageiro, uma década atrás; continuavam com aquela sagacidade que a deixava desejosa de diálogos inteligentes.
Não sabe se os tapetes da existência de ambos lhes vão trazer comunicação rolante, fluída, mas sente, bem ao jeito de Paul Auster, como estes encontros inesperados são capazes de lhe fortalecer a vida...
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