regina - nome de chocolate e de mulher

04 março, 2006

Aliadas

Havia pedras, poeira, jardins que já não o eram e uma avenida completamente do avesso!
Para onde quer que se olhasse, o cenário de chão revolto fazia tropeçar a sensibilidade menos frágil...
Quer fosse dia, quer a noite se afirmasse, não havia hipótese de alterar aquele mundo urbano.
Os calceteiros talhavam pedra e solo, num puzzle de peças mais ou menos afagadas...
Regina perdeu-se naquele rebuliço de desequilíbrio e desceu a avenida, quase em correria, para tentar escapar à desarmonia de sapatos empoeirados... Se pudesse, voava pelos telhados dos prédios eternamente verticais, não fosse aquele lugar o espaço dos aliados...
E, sem que o quisesse, viu-se obrigada a parar - parou por um imperativo ético e estético, ou estético e ético; tanto fazia - ali, a ordem dos factores era mesmo arbitrária...
E voltou a ver operários construídos e calçadas em construção; e voltou a sentir o pó na boca e nos olhos. Mas parou.
Ali, num discreto pedestal de indelével pedra, assomou uma figura de jovem mulher, de uma nudez prazenteiramente sentada, com hirtos seios brancos e suaves, numa atitude de quem ia saltar ao primeiro desamparo. Mas nunca, nunca se mexeu!
Regina ficou ali, longo tempo, a olhá-la, fixando a alvura da sua dignidade, mas chocada com tão perfeita imagem deixada, assim, nua, à mercê de todos os olhares de homens com cio.
Ambas aguardavam que fosse reposta a ordem - ambas apelavam à urgência de um jardim de tapete de flores, onde pássaros e crianças dessem o mote às tardes de verão.

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