Despir
Regina passou a mão pelo cabelo acabado de lavar e sentiu gotas de chuva em humidade morna, que lhe inundavam os olhos semicerrados...
De todo o seu corpo brotava uma intempérie de outono, numa velada descrença dos sentidos.
Secou-se em confortáveis afagos de toalha cúmplice e olhou em volta - havia roupas e anéis e brincos e sapatos e relógios e écharpes; cremes de rosto e de corpo; bâtons e vernizes - tudo envolto em perfumes que repousavam numa sensualidade de frascos abertos...
Divertiu-se a rebolar pelas cores, texturas, formas e aromas do que era o bragal da sua discreta, mas afirmativa, vaidade.
Desde as rendas, com que abraçava o seu feminino universo interior, até aos algodões e lãs, com que moldava o corpo, em evidência não ostensiva de formas, passando pelas pedrinhas com que enfeitava o colo, as orelhas e as mãos, tudo lhe parecia necessário e imprescindível ao seu dia-a-dia de mundo fora de portas.
Revestiu, então, pele, olhos e boca, brincando em dégradées de folhas de Setembro, sorrindo a cada fase até ao resultado final - estava bonita e cuidada, com a aparência de vida para o mundo.
Quando a campainha da sua porta tocou, Regina estranhou tal ruído de realidade, mas apressou-se a responder à chamada...
A urgência do encontro evaporou-lhe a roupa e tudo aquilo com que, há poucos momentos atrás, se tinha munido para saudar quem com ela se cruzasse.
Com um corpo suado e vestido apenas de pele rubra, olha agora o ser que a ladeia, tão comum e mágico quanto ela, e faz da sua nudez a única roupagem com que quer despir as indeléveis cicatrizes das suas absurdas inseguranças!
De todo o seu corpo brotava uma intempérie de outono, numa velada descrença dos sentidos.
Secou-se em confortáveis afagos de toalha cúmplice e olhou em volta - havia roupas e anéis e brincos e sapatos e relógios e écharpes; cremes de rosto e de corpo; bâtons e vernizes - tudo envolto em perfumes que repousavam numa sensualidade de frascos abertos...
Divertiu-se a rebolar pelas cores, texturas, formas e aromas do que era o bragal da sua discreta, mas afirmativa, vaidade.
Desde as rendas, com que abraçava o seu feminino universo interior, até aos algodões e lãs, com que moldava o corpo, em evidência não ostensiva de formas, passando pelas pedrinhas com que enfeitava o colo, as orelhas e as mãos, tudo lhe parecia necessário e imprescindível ao seu dia-a-dia de mundo fora de portas.
Revestiu, então, pele, olhos e boca, brincando em dégradées de folhas de Setembro, sorrindo a cada fase até ao resultado final - estava bonita e cuidada, com a aparência de vida para o mundo.
Quando a campainha da sua porta tocou, Regina estranhou tal ruído de realidade, mas apressou-se a responder à chamada...
A urgência do encontro evaporou-lhe a roupa e tudo aquilo com que, há poucos momentos atrás, se tinha munido para saudar quem com ela se cruzasse.
Com um corpo suado e vestido apenas de pele rubra, olha agora o ser que a ladeia, tão comum e mágico quanto ela, e faz da sua nudez a única roupagem com que quer despir as indeléveis cicatrizes das suas absurdas inseguranças!
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