regina - nome de chocolate e de mulher

20 dezembro, 2006

Amar sem ser a crédito

Cheirava-lhe a nevoeiro azul!
Abriu os olhos e vislumbrou nuvens acetinadas que a envolveram numa suave preguiça matinal...
Estendeu os seus raios de brilho amarelo e, devagarinho, foi desaparecendo no espaço!
Era uma estrela pequenina e passaria o dia escondida pela luz do sol.
Trim!
Trrrriiiiimmm!
Trrrrrrrrrrriiiiiiiimmmmm!
Hei, humanos, gritou Regina, é hora de acordar dos sonhos nocturnos e andar mecanicamente ao som de todos os relógios do mundo.
Ouvia, sem poder distinguir os sons, a azáfama dos homens que se levantavam para viver mais um dia das suas vidas, apressadas e intranquilas.
Havia automóveis que arrancavam para o frenesim das cidades levando, lá dentro, pessoas compassadas de horários fixos:
- A chupeta da Ana onde ficou?
- E se o Tiago volta a vomitar o pequeno-almoço?
- Leva o Livro de Português, Catarina!
- Até logo, meus filhos!
E os computadores à espera das palavras, dos números e da eficácia; e os telemóveis desafiando, constantemente, qualquer vestígio de silêncio; e o café que é sempre pouco para a necessária velocidade de cruzeiro do pensamento...
Que humanidade tão desalentada, constatou Regina...
Neste lugar, é o roubo que empobrece os bolsos e os valores da honestidade.
Ali, é o pó da guerra que se levanta, empoando o discernimento humano.
Acolá, mancha-se o horizonte de vermelho que escorre, pegajoso, pela vergonha de alguns.
Mais adiante, a água, que nem em gotas chega, desidratando até à alma, milhares de crianças que já aprenderam a chorar sem lágrimas.
Lá mais ao fundo aumenta a febre nos corpos doentes, impotentes para a combater. E os medicamentos fazem voos aflitos, ansiosos por que não seja demasiado tarde.
Mais à frente, a água lava de dor aldeias inteiras, submetendo-as aos seus caprichos.
Mais além, a terra abre-se em labaredas de cores quentes e assassinas.
Basta! - disse; não façam o pino à ordem natural do mundo! Dêem sossego à vida. Párem para olhar! Olhem e olhem-se... E, se possível, cantem! Rebentem as amarras do silêncio entoando, em uníssono, as árias de todas as óperas do mundo. Abracem-se numa solidariedade de mãos coloridas de diferentes tons. Construam sorrisos comuns e falem a linguagem das madrugadas calmas. Levem convosco a candura de todas as auroras rosadas, que emana da vossa insuspeitada sensibilidade. Depositem nas palmas das vossas mãos, agora despojadas de angústia, o vosso olhar carregado da poesia das coisas simples. Toquem-se e dêem beijos em esperanto, numa cumplicidade feliz.
Apaguem as luzes e ouçam a respiração do mundo - cadenciada, apaziguada, serena...
E, amanhã, amanhã quando acordarem, saiam para as ruas enfeitadas de Natal, clamando por amor, numa roda universal. Amor que terá de se oferecer sem credo específico, que se nutrirá apenas de sentimentos nobres, porque sóbrios e que não se venderá nunca a crédito!

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