regina - nome de chocolate e de mulher

01 novembro, 2006

Laura

A questão era complexa - Regina não o negava! Mas, como mulher esclarecida, podia assumir como a incomodava aquele debate estéril sobre o problema da fecundação... Sabia que as vertentes eram multidisciplinares e que, da ética à embriologia, da neurologia à religião, se faziam alguns monólogos irredutíveis - as malhas da intersubjectividade centífica nem sempre se casavam com os pontos da subjectividade do senso comum, que continuava ainda a acreditar apenas na pseudoveracidade do que os seus olhos nus alcançavam... A Igreja Católica seguindo à frente, nesta cegueira, perpetuando dogmas e hipocrisias de estimação, mesmo com provas dadas - provas e mais provas de sofrimento humano; precisamente aquele que diz querer evitar...
A possibilidade de gerar vida surge, em todos nós, a partir da idade da adolescência... Então, que não se retire a nenhum ser humano o exercício da racionalidade, que fez de nós seres peculiares - assim, problematizamos, queremos, desejamos, receamos; conseguimos privilegiar escolhas e... decidir!
Enquanto assim voltava a reflectir, Regina ia-se aproximando do berço de Laura... Aqui era a vida que, depois de potência se tornou acto - o seu corpinho tinha 48 horas de atmosfera, dois dias e duas noites de vida terrena.
Laura era uma perfeita miniatura humana, esculpida em órgãos e músculos, que respirava um (não) saber de conforto e de descontracção...
Regina ficou todo o tempo que lhe foi permitido a olhá-la, com olhos de se abriam em flash, perpetuando uma convicção insofismável - só assim valia a pena dar à luz: o pai de Laura protegia, com toda a ternura de que era capaz, a mãe de Laura e, neste quadro de presépio não religioso, aninhava-se a cria que eles queriam verdadeiramente acompanhar, responsavelmente, vida fora...
- Quem poderá defender, então, que "tudo se cria"???, gritou Regina - tanta vida mal criada...
Alheia ao mundo e aos seus hediondos preconceitos, respirou a noite e pensou no sono perfeito de Laura, que um dia ainda se rirá, inteligentemente, dos mitos obscuros da Humanidade...

1 Comentários:

  • Às 3 de novembro de 2006 às 04:20:00 WET , Blogger ZOOM & PALAVRAS disse...

    Tens razão, Regina... por vezes os dogmas e as doutrinas parecem afastar - nos do essencial... porque nem sempre são vividos de foma a priveligiar o essencial: o Amor! Doutrinas, dogmas, devem ser postos ao serviço desta realidade que os transcende... é importante discernir cada caso em vez de aplicar leis universais que se adaptem a todas as circunstâncias, cegamente! A Laura deve ser linda! A vida dela é o mais importante!Beijinho!

     

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