Átrio
Desceu as escadas interiores do seu lar de vida, com paredes ilustradas de fotografias roubadas à luz sombria das aldeias serranas, como quem quer transportar, para dentro de casa, construções de mundos múltiplos, caleidoscópicos!
Inventou um bloco, que quis de 365 folhas (ano comum!), para aí registar tudo aquilo a que, até àquele dia, não fizera Delete – por não poder ou por não querer… Convivia bem melhor com a segunda perspectiva…
Agora, haveria de folhear a vida, num frente e verso, frente e verso, ou desfolhá-la num bem-me-quer, mal-me-quer eterno e enganador. Não era mais a verdade que a norteava neste passeio pelos caminhos do passado; era o facto de já ter o poder da distanciação, o poder da quase indiferença.
Gostava de pensar que lhe era possível encher o seu corpo de pétalas, tal jarra em dia de festa, numa Beleza Americana que recordava em imagens de repetidos milhões de rosas vermelhas, debruçando-se sobre um corpo de jovem adolescente, no écran. Corpo habitado…
Podia, agora, viver previamente todos os momentos em que fugiria para ali, como a criança que, com balde e pá, sabe, precocemente triunfante, que vai construir o mais bonito castelo de areia, construir também o seu castelo de cartas, de folhas, de papéis; rainha saborosa do seu reinado…
Inventou um bloco, que quis de 365 folhas (ano comum!), para aí registar tudo aquilo a que, até àquele dia, não fizera Delete – por não poder ou por não querer… Convivia bem melhor com a segunda perspectiva…
Agora, haveria de folhear a vida, num frente e verso, frente e verso, ou desfolhá-la num bem-me-quer, mal-me-quer eterno e enganador. Não era mais a verdade que a norteava neste passeio pelos caminhos do passado; era o facto de já ter o poder da distanciação, o poder da quase indiferença.
Gostava de pensar que lhe era possível encher o seu corpo de pétalas, tal jarra em dia de festa, numa Beleza Americana que recordava em imagens de repetidos milhões de rosas vermelhas, debruçando-se sobre um corpo de jovem adolescente, no écran. Corpo habitado…
Podia, agora, viver previamente todos os momentos em que fugiria para ali, como a criança que, com balde e pá, sabe, precocemente triunfante, que vai construir o mais bonito castelo de areia, construir também o seu castelo de cartas, de folhas, de papéis; rainha saborosa do seu reinado…
Ela, a REGINA das suas convicções.
Leonor, de sorriso audível, ia-lhe dando o incitamento, que sempre lhe reforçava o voo. E ascendeu até àquele ser pequenino, inversamente proporcional à ternura que sempre lhe despertava, pensando na vida que juntas já tinham desfiado – novelos de sonhos multicolores; ponto de cruz de angústias e algumas surpresas que ambas tinham completamente dispensado.
Leonor, de sorriso audível, ia-lhe dando o incitamento, que sempre lhe reforçava o voo. E ascendeu até àquele ser pequenino, inversamente proporcional à ternura que sempre lhe despertava, pensando na vida que juntas já tinham desfiado – novelos de sonhos multicolores; ponto de cruz de angústias e algumas surpresas que ambas tinham completamente dispensado.