regina - nome de chocolate e de mulher

25 junho, 2008

Singelo Conto

Saudosa das suas radiografias de existência, voltou aos seus textos onde se despia e vestia de Regina.
A convite de uma das suas amigas predilectas, foi com ela, serra acima, rumo a uma casa de sóbrio xisto e despojada história, dar as boas vindas ao Solstício de Verão. É que esse era o seu dia mais risonho, mais longo e mais carismático: o dia do seu aniversário!
Não precisava de o dizer a ninguém; toda a gente conhecia as alegrias do seu dia de ter visto a luz...
A São também o sabia bem e, como tal, tratou de a presentear com a mais curta noite do ano, plena de conversa bordada a lembranças doces e a silêncios entrecortados por ronronar de gatos na eira ou por um chilrear de pássaros na madrugada do dia dedicado à Música Europeia - os pássaros, pensou, não têm nacionalidade!
Depois do cumprimento das efemérides e de horas e horas de amigos, família e descontracção, seguiu viagem, com a mesma amiga predilecta, para uma noite de santos populares, encontrando um Porto desabrigado e chuvoso - orvalhadas de S. João eram aceitáveis; chuva, não! Apesar disso, pendurando sorrisos, como quem coloca balões de papel no rosto de sua casa, lá foram festa adentro, ouvindo os típicos sons da cidade em frenesim - martelinhos e onomatopeias de satisfação.
Mas a sua Ribeira, num instante, começou a adensar-se, a encher-se de tal modo que não havia sequer um pequeno espaço em que Regina pudesse respirar fundo como, por vezes, tinha necessidade de fazer - um inspirar a plenos pulmões...
E fugiu; subtraiu-se à multidão que a desaconchegava, apertando-a.
Sempre com a sua perfeita amiga, enveredou por uma rua amistosa e muito mais serena, recuperando o seu perímetro de conforto de ar.
De repente, lembrando mais uma vez o seu tão bem compreendido Paul Auster, o fantástico autor dos perfeitos acasos, eis que o conto surgiu: era um tempo inscrito no tempo em que Coimbra albergou três seres cheios de sangue quente e de sonhos vivos - anos setenta em ebulição... Seres que, passado tanto tempo, relembravam que existiram num tempo forte, cheirando a mitos ancestrais... É que alguém interpelou estas duas mulheres, oferecendo-lhes um generoso Porto vivenciado em varanda de Fogo de Artifício pujante, intenso, mágico...
A cidade estava incendiada de ânimo e Regina sentiu-me perfeita, estimada, feliz.
Dia seguinte, ao som de sinos de sol alto, foi presenteada com o mais insuspeitado brinde - um balão de S. João veio morrer-lhe aos pés, implorando ser ressuscitado aos seus cuidados de telas, ao seu feitiço de mãos...
S. João, sempre!
Para sempre este singelo conto.