Um chá sem deserto...
Aproximava-se, devagarinho, com o cuidado que convém quando se segura um tabuleiro enfeitado de duas chávenas de fina porcelana.
Serviu-lhe um chá com emanações de flores de jasmim e sentou-se mesmo à sua frente, a percorrê-la com a candura de uns olhos apaziguados e sábios, porque envolvidos em horizontes de muito mundo de terra lavrada.
Falou-lhe, então, dos vários continentes desbravados e dos seus múltiplos conteúdos, através de uma voz que dizia, nas entrelinhas de silêncio:
- Era a ti que eu escolheria, se já te soubesse princesa existente para, comigo, te enredares nos filmes das minhas, até agora, solitárias partidas, pois o que descubro, a cada olhar suspenso em ti, são os tules da tua graça frágil, com que cobres teu corpo ágil, sempre pronto para voar!...
Regina, que passeava pensamentos rosados, debaixo do seu vestido de sedução verde-primavera, abriu ambas as mãos, aquecidas na chávena de porcelana líquida, e tocou o seu cabelo mágico de lisos, sedosos e cinzentos fios, descansando músculos e mente, num encantatório jogo de palavras soltas, onde a luz dava o mote - luz ténue de crepúsculo, de silêncio, de repouso, de amor...
O chá, esse, foi perdendo o seu calor, noite fora, na inversa proporção da temperatura de seus corpos nómadas, onde as viagens no mundo daquela pequena sala se começavam a fazer.
Perceberam, já de madrugada, que tinha chegado a hora de fazerem o check-in para o ser um do outro e adormeceram, pela manhã, bem à superfície de um planeta distante, aquele que a sua teimosa ilusão acabava, nesse momento, de inventar!