regina - nome de chocolate e de mulher

18 junho, 2005

A sua voz

Era a voz! Mais do que o olhar, mais do que o gesto... Era a voz!
Regina aconchegava-se a ela, tornando-se sempre mulher protegida naquele som, que a afagava em carícias de longas e esquecidas horas de decibéis sussurrantes.
E o seu corpo também se ouvia em febris rituais de cantochão.
Renato, como gostava de lhe chamar, por ter renascido das luzes psicadélicas de um espectáculo não mais possível, era a palavra-passe para aquela indolência face a qualquer obrigação diurna; dava-lhe a noite de insónias prazenteiras, num repousante avesso do dia.
E ambos se foram vestindo de pele de frutos, amadurecendo os corpos para o festim de suculenta colheita.
Mas, uma noite, ele não deu à sua voz vestes de veludo... e o corpo dela estremeceu de vertical estranheza, revolta e medo.
Agora, ouve o silêncio e alimenta-se dos seus ecos.
E sabe que ambos partiram em viagem com destino incerto - cada um sentado em seu transporte de sonhos pisados, volatizando-se em caminhos de éter...