Verão
Aguardou...
Esperou quase dois longos meses de auroras não sorridentes.
Ergueu os dias e deitou as noites, em cadências iguais, em simetrias de agitação e apaziguamento diários, numa quarentena de obrigatoriedade de vida, sem que se sacudissem quaisquer neurónios de alegria de entranhas.
Instalou-se num silêncio de pausa sem adjectivações.
Um dia, já o mês de Junho ia longo no seu curso, acordou da letargia, de sorriso pendurado noutro sorriso, de palavras dadas com outras palavras - macias, cúmplices, partilhadas.
Ao texto proferido juntaram-se lábios, saliva e um Gosto de ti... coadjuvado em abraços e mimos urgentes, em osmose de suor efectivo; não latente!
As madrugadas aclaram-se agora dentro dela, como se aclara a roupa com que veste o corpo diurno - não ostenta, ao peito, qualquer troféu de felicidade mítica, mas deposita, no seu coração apaziguado, o brilho do ouro que, só para ela, luz.
Regina senta-se na varanda do presente, bebe a água cristalina que lhe adivinha o rumo e sai de casa com passos firmes, tocando à campainha do seu afecto sem hora programada.