Afluente com cédula!
Olhava uma ponte que, num salto de pernas de cimento, ligava uma à outra margem de um qualquer pequeno rio, afluente de um curso de água maior, mas com cédula de nascimento, também.
Nada, mesmo nada à sua volta lhe dava qualquer sensação peculiar - tratava-se de uma ponte sem história por sobre um rio afluente de um curso de água maior - insistia no trivial pensamento.
E em que parte do mundo é que os rios menores possibilitam o conto?, perguntou de neurónio a neurónio. Em muitos lugares, respondeu; sempre que as aldeias namoram os rios, os mais bonitos rios - os seus...
Quis deter-se, pois alguma coisa a fazia insistir naquelas minúsculas perguntas, numa descontracção de espaços e tempos aquietados.
Surgiu, então, um nome; um nome inscrito num baixo relevo de angústia; um nome que justificou a imersão do seu corpo erecto, em mergulho de solidariedade de limos microscópicos, eternamente húmidos, aguarelando de esperança águas em percursos de apatia de silêncio...
Foi retirando, peça a peça, as vestes supérfluas e fluiu rio adentro, sem qualquer necessidade de tristeza líquida, pois suportava-a uma macia densidade de choro de água paradoxalmente doce, sorvendo as lágrimas que penetravam nos seus olhos de penumbra, mas não de desistência.
Sacode agora, nas margens, as últimas gotas de um rio que se lhe lamentou junto ao ser - um rio com um nome que lhe ficou, para sempre, colado às órbitas: Rio Pranto!