regina - nome de chocolate e de mulher

29 outubro, 2006

O Tempo e a Vida

Regina sempre gostou de ouvir tocar os sinos das igrejas a anunciarem, ao longe, a caminhada compassada do tempo sem retorno.
Assim deviamos nós proceder, pensava ela, enquanto caminhava ao ritmo das badaladas das seis da tarde... Isso seria muito mais eficaz, para não cair no mito do que desejaríamos que voltasse a ser presente!
O tempo tem apenas o sinal de obrigatoriedade de ir em frente - aí não há qualquer escolha... Então por que razão tanta gente retoma o toque de horas, dias, meses e anos do que ficou para trás; do que, deseje-se ou não, é irrepetível? E que graça teria poder escolher? Por exemplo, usar os mesmos protagonistas mas, talvez, novos argumentistas para recriar o vivido?
E pôs-se a pensar quem escolheria para realizar o seu tempo ido... E entre Woody Allen ou Pedro Almodóvar, vacilava! Mas isto era ela a colocar uma nota de humor amargo, em tudo o que viveu como lhe foi acontecendo, certa de que tinha encontrado, frequentemente, maus (ou bons?) actores para com ela contracenarem.
E, depois de mais uma cíclica mudança de hora, na noite que acabara de dormir, pensava como criar o argumento que pudesse duplicar aqueles sessenta minutos de tempo de bónus de vida. Ainda se lembrou de contactar um especialista em curtas metragens, mas não foi preciso muita reflexão para suavizar o propósito - é que, passados seis meses, teria de compensar esse tempo, anulando-o!
Esquecida da convencionalidade de acrescentar oportunidades de vida, aqui e as anular, acolá, foi dedicar-se ao gozo de pintar telas, alheia aos sinos que do seu atelier nunca consegue ouvir.