Colorir a Vida
Levantou-se, já a noite ia profunda, e vagueou pensamentos pela sua casa de silêncios adornada.
De dia, tinha-a vestido de pequenas telas que, geralmente, lhe saíam ludicamente dos seus dedos ágeis. Eram papéis, tecidos e tintas multicolores que se estampavam naquelas superfícies ávidas de construções de histórias simples, à imagem das suas reflexões mais genuínas.
Mas a sua leveza, por entre as horas nocturnas devia-se, hoje, a uma lucidez sem sofrimento, reconhecendo a perpétua inutilidade deste.
Regina enalteceu um pensamento que se lhe impôs como antecipação de um dia novo - invernoso, mas quente. E esse conteúdo reflexivo tinha um nome; um nome colorido, como a sua amizade dos últimos tempos.
Relembrou a calmaria dos passeios sem rumo, nas tardes que terminavam sem que ambos dessem conta, entrando pelas noites onde o aconchego dos corpos e dos afagos ia para além do apagar das luzes das estrelas.
E tocava, à distância, os seus cabelos lisos, longos e macios, que a deixavam sempre com vontade de lhe ler os pensamentos cálidos, que ela começava a saber de cor.
Ofereces-me paz, pensava ele. Dás-me tranquilidade, pensava ela.
Agarrada, agora, à sua botija de noites sós, pressente a solidez de um corpo que a aguarda, bem longe, mas perto de um chamamento inebriante: - Vem; eu estou aqui!