Claridade
Os dedos de Artur Pizarro atravessavam as alamedas e os jardins de Liszt e os seus, pela noite, comprometiam-se com a sua invenção, de tranquilidade vestida, cantando a vida que se certificava pela respiração de um relógio, onde o tempo se dizia em minutos longos, que bocejavam a escuridão sem sobressaltos.
Regina queria prolongar, pelas horas do dia, o que a noite lhe estava a oferecer de braços abertos - sonhos de pele morna e de intenção quente, que emanavam do texto de um corpo que esboçou, a seu lado, velando-a em silêncios acetinados.
Perguntou a si mesma o que mais desejaria, ao acordar, logo que lhe fosse servido mais um dia.
Pensou... Semi-adormecida, pensou... Ocorreram-lhe possibilidades insuspeitadas, realidades grandiosas que tanto gostaria de poder concretizar mas, o que se lhe impôs de mais desejado que o regresso de D. Sebastião, foi poder sorver a manhã de quase Outono que se aproximava; abrir os olhos e ver - ver claro com os olhos e com a razão: empacotar vários sonhos nublados e ver claro... Nítido!