regina - nome de chocolate e de mulher

21 junho, 2005

Solstícios

O que é que poderia caber no dia maior de todo o ano? Tudo, até mesmo os contos da sua vida, que se têm escrito com palavras afirmativas e indeléveis.
E renascia, todos os anos, com júbilo, num ritual de solstício de verão.
Quis nascer no maior dia do ano, não por vaidade, mas por verdade: sentia a sua existência como o espaço para todas as possibilidades e misturava paixão, tristeza, arrebatamento, desilusão, alegria e nostalgia numa enorme salada de fruta que consumia sem moderação...
Via-se igual, via-se idêntica, num olhar sobre si e sobre as coisas do mundo, que pouco se tinha alterado ao longo de 48 anos.
No corpo, pela manhã, tinha sempre a energia do sol nascente e, ao pôr-do-sol, ia empalidecendo, num regresso a casa, sereno e reparador.
Na voz, ao nascer do dia, trazia a força das ideias, em catadupa de pensamentos, concretizados em retórica, imagens, textos e emoções; ao cair da noite, começava a deslizar pelo seu interior de criança, que nada mais quer do mundo, a não ser o colo e o sossego silencioso do cheiro da mãe, concretizados em cama de tréguas.
Agora, apesar de saber que esta noite vai ser mesmo a mais pequena do ano e colocada a eterna crença na luz, olha, com alguma perplexidade, para os seis meses de noite, sempre a avolumar-se, sempre a enegrecer, sempre a crescer!