Com flores no olhar
Levava-lhe um centímetro do seu jardim, em forma de duas pequeninas rosas com cor de aurora; flores do seu jardim de terra revolta, onde escondia a memória da eterna perda do seu filho!
Regina perguntava-lhe: - "Maria, como emerges dos teus silêncios, ainda a sacudir raízes de perene tristeza, que vestes sempre de semblante manso?"
E obtinha a resposta não com palavras, mas com a linguagem não verbal das plantas para infusões de consolo; dos frutos para adoçar compotas de outono e de muitas flores para colocar em jarras de primavera sem tempo.
Houve um dia em que Regina, que estava deambulando por outros mundos de ser, não pôde abrir as mãos para acolher as duas pequeninas rosas que, embora para ela, acabaram por ficar em improvisada jarra, num improvisado canto da sua escola!
Mas Regina viu-as! E daquele canto surgiram notas de madrigal diáfano...
Quando, mais tarde, Maria lhe disse que aquelas flores de encanto de aurora seriam para ela, respondeu: - "Elas eram para mim; eu percebi! Levei-as, ontem, nos olhos, para enfeitar o meu lar apaziguado..."