A vida é bela
Seguia em passo de férias, numa noite de início de Outono, com macio agasalho que lhe abraçava os ombros de chocolate de leite, testemunho de um corpo que se abriu em sóis de Agosto.
Quando chegou ao largo principal daquela vila sadiamente beirã reviveu, à semelhança de uma das cenas do filme Cinema Paraíso, um écran que desceu do céu à terra, terra onde muitos já estavam, àquela hora tardia, a fazer companhia ao sono.
Parecia mesmo a pedido - na tela de um improvisado cinema, com tecto de estrelas sem néon, passava o filme A Vida é Bela...
Em silêncio, sentou-se e voltou a entrar naquele ímpar diálogo de pai e filho, onde o absurdo da guerra deu o mote para um muito mais lógico jogo; para se ganhar, devia evitar-se qualquer excesso - contenção e parcimónia exigiam-se!
Em alemão, o argumento era bem diferente; havia um jogo, também, mas com uma única regra: o direito ao extermínio!!!
Regina perguntou-se, mais uma vez, questão que colocava há muitos e mudos anos, como poderia aquela regra ser muito mais criativa do que a de qualquer imaginação grávida de fertilidade?
E, na cadeira de cenário de cinema de estrelas, com a humidade nocturna a refrescar o ambiente de cinema-universo onde, desde a adolescência, não entrava, reviu aquele belo filme, com música na pulsação...
Que a vida era bela já o sabia desde que nascera; que a vida era ainda mais bela, com histórias assim, certificou-se.