regina - nome de chocolate e de mulher

08 janeiro, 2006

Noite habitada

Regressava a casa pelo caminho sinuoso da noite, desvendando os trilhos de uma estrada curvilínea, mas exacta, envolta em nevoeiro lácteo, a revestir de secretismo cada árvore, cada folha pálida, cada pássaro calado ao som da escuridão...
Já meia noite tinha passado e ela sentia-se acordada para um dia ao avesso, habitante de pensamentos em rewind, numa acalmia de apenas ter de se conduzir até ao seu cordato abrigo de conforto esboçado por si.
O silêncio que a esperava na madrugada de repouso manso e a certeza dos gestos rotineiros de se aconchegar na sua cama de lençóis brancos, coloridos pelo cheiro do seu perfume e pele, levavam-na a uma viagem sempre com o mesmo destino. Sabia então que podia, mal o sono a adormecesse, acordar por dentro de si, de mão dada com uma enorme fantasia que nenhum livro de histórias para adormecer poderia inventar.